quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Comportamento - Pirulla - Guzzo, gays e cabras


Dia desses vi um vídeo do Pirulla sobre homofobia velada. 

Gosto muito da coerência e da eloquência do Pirulla, concordei com algumas coisas que ele disse no vídeo, não concordei com outras, mas isso trouxe a tona novamente uma coisa que sempre me incomodou na maioria dos amigos gays que eu conheço: o preconceito que parte deles mesmos...

Só contextualizando o que quero dizer, segundo Bastians, no trabalho entitulado "Man in the Concentration Camp and The concentration Camp in man", carregamos dentro de nós os algozes de quem fugimos. Professor Bastians tinha larga experiencia no trabalho com ex-prisioneiros e no tratamento da chamada síndrome dos campos de concentração.

O preconceito é como um velcro: se a sua superficie é lisa ele não adere de jeito nenhum, mas se houver qualquer esponjinha, fiapo ou pedacinho de velcro aparente, vai grudar mesmo! Então, tudo que nos resta é ter a humildade de procurar onde está esse pedacinho do velcro para que isso se descole. Da mesma forma acho que a gente tem estar sempre muito atento a si proprio antes de tudo: que parte de você - por mais renegada que ela seja - concorda com seu agressor? Reconheça-a e você ganhará um aliado feito de Teflon: Vc mesmo!


Segue abaixo o diálogo muito proveitoso que surgiu do video que menciono no titulo desse post.

"Ana Caruso  - O que eu acho mais estranho na convivência com os gays - eu trabalho numa empresa onde eles são algo bem próximo da maioria -  é que eles se xingam entre eles de "bicha", "viado", e coisas do gênero de forma pejorativa. Daí e me pergunto: Se esses termos ja partem deles de forma pejorativa, como é que isso pode mudar um dia???

Eros Viana-Não sei se vai ler mas de qualquer forma vou explicar . Um negro pode chamar o outro negro de alguma coisa meio racista(Vou dar o exemplo dos EUA porque aqui do Brasil só me lembro da ofensa " macaco " agora) como "nigga" ou "nigger", esse é um termo pejorativo que era usado para chamar os negros numa época não muito distante e que ainda ocorre hoje nos EUA, hoje em dia é chamado de " the N word"("A palavra com N") para aqueles que vão dar uma reportagem sobre isso . Negros, nos EUA, vivem se chamado de niggas, como algo normal, virou uma forma de reconhecimento entre eles . É tipo como uma pessoa fala sobre um " mano " da quebrada e alguém fala " E aí, mano ?", isso varia da forma que esta usando . Se eu sou negro e chamo um amigo meu de nigga, ele vai saber que eu quero dizer com isso algum outro termo como " buddy ", "dude", "pal", "bro"(Termos utilizados com se fosse " cara ", "mano", "velho" aqui no Brasil) . Mas agora se tem um atendente na loja que é negro, e ele vai atender um homem branco e o homem branco chama ele de nigga tentando ofender, você acha que não é racismo ? É claro que é racismo . Não é nem por ele ser branco, é porque ele esta tentando utilizar a palavra de forma pejorativamente ofensiva . São casos diferentes .

Ah e tem outra coisa, eu acho que gays que usam as palavras " bicha " e "viado"(Sim com " -i ") estão se referindo à frescura . Eu chamo muita gente de viado e eu 100% das vezes estou me referindo ao fato da pessoa estar sendo " frescurenta ", tipo " Você não vai comer esse pedaço só porque caiu no chão por um segundo ? Viado ", não diz respeito à opção sexual, até porque eu nunca chamei um gay de viado(Ou não que eu me lembre) e mesmo que eu tenha chamado, eu tenho certeza que eu estava me referindo à frescura e não à sua opção sexual .

Ana Caruso - Eros Viana, muito coerente e verdadeiro o que vc disse, mas não é exatamente essa conotação que me incomoda e que gerou o meu questionamento. As vezes, vejo muitos gays falando de algum hetero de quem não gostam dizendo "ah, esse dai, uma bichinha" como se isso fosse realmente algo bem indigno de ser... Ou, como se isso insultasse o cara de alguma forma, pelo simples fato do cara ser sabidamente hetero, por exemplo. Como se atribuir a condição homossexual a alguem fosse uma inconveniencia e que eles "praguejam" para pessoas de quem eles não gostam.

Isso é muito sutil, divertido até, mas em essência está errado! Se eles pensam assim deles próprios, fica dificil conseguir fazer com que o outro pense diferente. Inverta a situação e entenderá o que eu quero dizer: vc já viu um hetero chamar pejorativamente um gay de "machão", como se isso fosse um xingamento? Isso não acontece porque não passa pela cabeça de ambas as partes que "machinho" possa ser um xingamento! Entende o que eu quero dizer? É insano pensar nisso. É uma forma de preconceito passivo, sutil e muito poderoso.

Eu entendo que eles se referem ao cara enrustido, tipo "ele é tão chato que deve ser viado e não se assume", ou coisa do genero. Mas tá errado pensar dessa forma. Isso deixa meio que de forma subliminar um preconceito partindo deles proprios na minha forma de ver..."

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