segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Suavidade...

Dia desses Bruno me mandou um vídeo sobre  sincronização de metrônomos. Alguns metrônomos na mesma freqüência fixados em uma barra da madeira, quando apoiados numa mesa, desorganizavam-se, ao passo que quando colocados em uma superfície que permitia o conjunto oscilar, sincronizavam-se.
Pensei nesse conjunto de metrônomos como numa equipe, cujos membros se permitem a flexibilidade de posicionamento fazendo o conjunto vibrar harmonicamente. Engraçada a ironia que faz perceber que estabilidade nada tem a ver com rigidez.

Curioso, mas essa idéia voltou a me assaltar hoje no hexagrama 57 do i-ching.
Segundo o site Zhongwen.com , o ideograma – xun1 – é composto por vinte pares de mãos que juntas aplicam o selo real. Eu já sabia que tentar entender os ideogramas contidos nos nomes dos hexagramas do i-ching esperando uma transliteração é perda de tempo, mas dessa vez acho que as sincronicidades funcionaram a meu favor. Quando li o significado de um dos componentes do ideograma  – vinte pares de mão que trabalham juntas - fiz ligação imediata com a imagem dos metrônomos.
Então o que havia intuído com o video sobre a rigidez comprometendo a fluência do sistema, faz sentido quando pensamos no hexagrama 57 do I-ching, associado ao vento, a suavidade? Segue abaixo trechos do hexagrama 57:
“Tem como atributo a suavidade, que é penetrante como o vento ou como a madeira em suas raízes.”
“O princípio da escuridão, em si mesmo estático e imóvel, é dissolvido pelo penetrante princípio luminoso ao qual, com suavidade, se subordina. Na natureza, é o vento que dispersa as nuvens acumuladas e deixa o céu claro e sereno. Na vida humana, é a penetrante clareza de julgamento que dissolve todas as sombrias intenções veladas.”
 “A penetração produz efeitos graduais e imperceptíveis. Não se deve, portanto, proceder de modo violento e sim através de uma influência constante. Efeitos dessa ordem chamam menos a atenção que aqueles que se podem conseguir com um ataque de surpresa, porém são mais duradouros e completos.”
E por falar na suavidade – que você só entenderá quando ver o vídeo – fecho esse comentário com  um trecho do texto que sincronicamente recebi no exato momento em que arrematei as idéias acima, mandado muito gentilmente por meu amigo Roniel, falando da suavidade do fogo e a força da expectativa.
“A chama... que irradiava do topo da fogueira, também ao contrário das outras vezes, não se alastrou rapidamente para as outras partes da madeira... ficou ali suave... queimando aos pouquinhos, as vezes dando a sensação que não ia para frente e trazendo a tona as nossas inevitáveis expectativas do que seria um modelo "bom" de fogo, que aquele, parece não preenchia...
E o tempo foi passando e aquele fogo foi nos acolhendo e criando uma atmosfera de calor e intimidade... que foi nos tocando o coração de uma forma tão única que nos mostrou uma força que ainda não havíamos presenciado no fogo...
A força da suavidade... e muito mais coisas que nem tenho como descrever...
O tempo foi passando e a fogueira demorou muito a cair... muito mesmo... e caio para o leste... a águia.
Esse fogo, que a princípio não preencheu nenhuma das nossas expectativas... nos propiciou momentos tão especiais, que sei que nunca vamos esquecer... e pelos quais sou profundamente grata... e mais ainda pelo aprendizado precioso que ele nos trouxe...
Ele nos mostrou, entre outras coisas, que... o que está além das expectativas, e que nunca foi vivido, pode ser o que a gente mais quer... e matar a nossa sede de Alma...
Por mais que a gente saiba que nossas expectativas influenciam na forma com que recebemos a realidade, é muito difícil a gente não se deixar levar por elas... e algumas coisas são tão fortes dentro da gente que determinam a aceitação ou não de coisas.... situações e pessoas, que vamos julgando e classificando, aceitando ou descartando, porque não se encaixam dentro das nossas expectativas do que é ou não adequado ou favorável...
E muitas vezes a nossa felicidade passa longe daquilo que esperamos...
E o Grande Mistério nos coloca de frente com situações onde podemos finalmente perceber como não sabemos de nada... de quase nada...”

É como eu digo: quem disse que a gente realmente sabe o que vai nos fazer feliz? Afinal, felicidade não é euforia...

segunda-feira, 6 de junho de 2011