quarta-feira, 30 de março de 2011

Sobre a Normose

Eu já percebi que vai demorar até que eu encontre alguém com quem trocar informações como eu preciso, então, vou atualizar esse blog com alguns emails que enviei há pouco tempo, porque são relacionados a assuntos de interesse dessa nova pós que começou.


Um termo que eu desconhecia, mas que ao mesmo tempo conheço muito bem é o termo "normótico". Pela explicação dada, já o conhecia desde os tempos do "Escuta Zé Ninguém". Mas acho que como isso foi a "camisa de força" de quase todo mundo que agora começa a se esclarecer espiritualmente, ficou uma certa caça as bruxas nesse sentido.


Fiquei com essa impressão muito clara depois de ver um depoimento do Roberto Crema. São 13 partes ao total.


Publico a seguir meus comentários a respeito da dita "normose":

"Temos que cuidar em não repetir uma “caças a bruxas” às avessas. Percebo que o termo “normótico” em um dos textos - “Deus me livre ser normal” - e dos vídeos – Liderança no século XXI - é quase que um xingamento, tanto quando a Igreja Medieval é pra Wicca e os nazistas para os judeus.
Estava vendo a palestra do Roberto Crema e confesso que me senti um tanto incomodada, porque o “normótico” descrito por ele é quase que uma “peste desprezível” e a minha experiência de vida mostra nada no processo evolutivo pode ser considerado assim. Dizer que “normótico” é aquele que não se preocupa com os males da humanidade, com as crianças do farol, ou com adolescente marginais me faz pensar que mais normótico é quem acha que tem que sentir de outro jeito só porque vai ser taxado assim. Eu mesma parto do principio de que se eu não posso resolver alguma coisa, eu não vou me preocupar com ela. E nem fazer de conta que me preocupo só para ser legal. Sim, enquanto não conheço um jeito efetivo de ajudar, as crianças do farol, os males da humanidade e os adolescentes marginais não serão o meu foco. Realmente acredito naquela historia do menino que pegou a foto rasgada do mundo e conseguiu montá-la porque viu no verso a imagem de um homem. Eu não sei consertar o mundo, mas eu tento consertar a mim mesma. Essa é a minha convicção. Podem haver amarras por trás dessas justificativas? Sim, claro que existem, e a graça da jornada da vida está em viver coisas autenticas que te coloquem em contato com isso, não é verdade?
É mais ou menos assim que eu penso: a relação das pessoas com o auto-desenvolvimento nunca é cobrada até o momento em que ela adoece e isso é natural em qq lugar e qq época! Joseph Campbell disse algo muito interessante sobre a influência dos mitos na vida da pessoa que acho que cabe aqui: “se isso não lhe diz nada, ok, siga em frente, vc provavelmente nunca irá precisar disso. Mas se te pegou, ai começa a grande viagem!”.
Cobrar de uma pessoa que enxergue tudo isso que é proposto pela visão da liderança  transpessoal “ridicularizando” seu estado – que provavelmente ela nem sabia que era uma coisa tão ruim – é o mesmo que ridicularizar um mestre de obras por nunca ter pensado num Memorial da America Latina, sendo que a demanda da vida dele sempre foi construir casas. E cá pra nós, sem o pedreiro, o Niemeyer não ia conseguir nada, não é?
Por isso eu digo, amigos, manerem nas palavras! O que pude sentir do vídeo do Crema foi que, sob uma “fachada” de conceitos transpessoais, agora a disputa é entre “normóticos” e “seres humanos”. Cara! Isso continua errado! Para ser o dito “ser humano” que ele cita, é preciso ter sentido na pele a ruptura com a normalidade. A normalidade deve ser respeitada como qualquer outro estágio do desenvolvimento. Acho que deve ser deixada para trás sim, mas com o coração agradecido e não com todo esse “asco”.
 Sem dúvida essa reflexão tem muito a ver comigo que de uns tempos para cá permiti tornar-me uma pessoa muito pragmática e radical que tenta enxergar tudo por contrastes.  E é esse lado que entende – mesmo que com uma certa coceirinha na língua – o engenheiro que não sente absolutamente nada dessas coisas todas que a gente diz sentir nessas sessões. Ele é sincero, não sente mesmo. Eu mesma nunca senti quadno era mais nova. Mas ele precisa ser respeitado, mesmo que tenha uma postura agressiva ou irônica. Talvez, quem sabe, já tenha vivido o que tentamos viver aqui de outras maneiras. No nascimento de um filho, na conclusão de um projeto complexo, numa coisinha boba do dia-a-dia... O importante não é a técnica. Nem todo “santo” é conhecido. Conheço pessoas comuns que viveram muito mais plenitude do que até julgam saber que viveram. Então acho que precisamos ter mais cuidado quanto a linguagem de cada pessoa. Nos aqui nesse curso falamos uma, mas certamente essa não é a única. Temos que saber que não somos detentores da única linguagem a chegar no Uno. Existem muitos caminhos para Roma.
Enfim, a segunda dinâmica do dia 26 me fez entender algumas coisas que acho que tangenciam esse meu parecer. A frase que respondia “o que era psicologia transpessoal para mim” foi “procurei por cores fortes, mas vieram as fracas. Vou ter que lidar com isso”. O desenho era uma linha sinuosa da cor das rosas que estavam na mesa da Vera – e que eu até ontem nem imaginava que podiam existir naquelas cores. Pude perceber que existe um erro nessa frase: não são cores fracas, são cores suaves. Ela é suave, a forma é sinuosa, mas sua aplicação – até por ser um giz pastel oleoso – é intensa. Ou seja, a suavidade e a delicadeza não excluem a intensidade. Foi disso que senti falta no discurso do Crema."

Gostaria de deixar bem claro que concordo em gênero, número e grau com o que é dito no video sobre os "rótulos crueis" atribuidos as pessoas que são massacradas pelos preconceitos muito mais do pela psicose em si. Mas se a "normose" tb é uma doença, exatamente por isso deveria ser tratada com o mesmo respeito. Somos um reflexo do nosso tempo e nosso tempo, até pela densidade demográfica e filosofia de desenvolvimento, não permite o que é singular. Permite apenas massas de manobra.

Não é verdade?

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