quinta-feira, 7 de abril de 2011

Somos ou estamos?

Durante muito tempo na minha vida, principalmente na minha infância, eu tive medo de tudo. A vida era uma engenhoca em falso que podia desabar catastroficamente a qualquer momento. Morria de medo de assalto, de brigas em casa, de fatalidades, do fim do mundo... A vida era muito chata nessa época. A minha vida no Tipo VI foi inerte.
Teve uma época que fui Tipo I. Herdei isso de minha mãe. Ou melhor, tentava ser assim para agradar a ela. Foi no dia em que resolvi que iria “me consertar”. Na época em que achei que tinha que levar a vida a sério e ir até o fim no “fazer tudo direitinho”. Determinava agendas, estipulava horários, prazos e tudo perfeitamente pensado e encaixadinho. Nessa época eu enlouquecia com a quantidade de detalhes que via no que tinha que fazer e paralizava por perceber que não conseguia fazê-lo. Furava agenda, me sabotava, e desesperava... Até que desisti. Mesmo assim, durante muito tempo continuei sendo Tipo I na minha vida emocional, quando achava que a castidade era a virtude primordial de uma mulher. Acho que eu ainda sou assim, os ideiais estão muito acima das minhas necessidades...
Durante uma época da minha vida eu fui Tipo II. Nessa época, minhas poucas amigas mais próximas eram as que mais conheciam esse lado. Um lado generoso, carente e agitado que sempre era deixado na mão, e que ia resmungar sozinha no quarto: “depois de tudo o que fiz por elas...” Um lado que quando percebia uma brecha, queria se tornar essencial, mas que depois não agüentava o peso de ser tão indispensável.
Em uma época, caminhei para o Tipo IV. Isso sem dúvida eu herdei do meu pai. Dramática, única, original, ao mesmo tempo em que se culpa pela incompetência de não conseguir ser feliz, interessante e integrada ao meio como todas as pessoas de minha idade. Eu era apenas uma bobagem original sem razão e sem sentido. Nessa época, na minha vida emocional, tudo era um drama mexicano, rasgado, suado e sofrido... O que ficou dessa época foi a arte: na escrita, nos desenhos, nos pensamentos. Sem duvida esse mundo dramático me faz ver a vida de uma forma muita mais interessante, mas viver dessa forma o tempo todo é muito cansativo.
Eis que num tempo de minha vida eu aprendi que tinha direito de ser reservada. Isso eu herdei do Sérgio, meu ex-marido. Aprendi que não havia razão para que eu evitasse a solidão. Que conviver com as pessoas era uma coisa desgastante e que já era hora de eu perceber que as coisas e as pessoas tinham tempo de validade: que a gente não pode dar e ficar sem. Foi esse período Tipo V que deu substancia e base para tudo o que sou agora. Esfriou o drama do Tipo IV mas consolidou sua visão poética de mundo, amadureceu a doadora carente Tipo II em alguém que não acha mais que tem que agradar, mas agrada quando precisa, apagou os medos do Tipo VI de forma a fazer ver que “do chão não passa”, a acreditar mais na vida...
Hoje eu tenho uma personagem para o mundo e uma para mim. A personagem do mundo é agressiva, enérgica, decidida, sem frescuras e muito direta. Um Tipo VIII total. Só não é mais porque o período Tipo II já havia drenado minha vontade de ser mãe e hoje em dia não quero mais ninguém dependendo de mim. E aí tem a personagem que guardo para mim... Essa sabe o quanto tem vontade fraca e o quanto é sucetivel ao envolvimento com outras pessoas. Essa personagem Tipo IX sabe que na verdade nada mais é que um espelho do seu redor, que na verdade reflete o que precisa para continuar existindo. Alguém que sabe que a existência é algo interdependente e que sabendo disso fica difícil impor sua mera vontade aos outros. Alguém que sabe que agora é feliz, ou pelo menos falta bem pouco para ser.
Faltam então os Tipo VII e o Tipo III.
O mundo do Tipo VII para mim é intrigante, exatamente por eu entender o Tipo IV e o Tipo V: Eu não sei fugir da tristeza nem da solidão, pelo contrário, é por elas que eu cresço, são elas que desembaçam meus olhos. Não consigo fugir da dor. Compartilho da presença de muitos amigos Tipo VII, e os adoro! Mas não consigo entrar e compreender seus mundos da maneira que consigo compreender os dos demais tipos.
Se o Tipo VII eu não consigo compreender, o Tipo III para mim é um total enigma. Não tenho referencia nem de conhecer alguém dessa turma...
Como será que eles se incorporarão em minha vida... E depois deles, o que virá?

Enfim, será que “somos” ou “estamos” os tipos com os quais nos identificamos...?

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